SUMÁRIO
1. Introdução
1.1 Contexto
1.2 Fluxo de comércio indiano para o SH6 85414011
2. Panorama geral do segmento de energia solar na Índia
2.1 Potencialidades
2.2 Principais players
3. Fabricantes indianas de placas solares
Referências
1. Introdução
O presente trabalho tem por objetivo analisar, de forma concisa, o mercado indiano de energia renovável, especificamente o segmento de energia solar e a produção e exportação de placas solares (células fotovoltaicas), visando apresentar o setor a potenciais importadores. Desta forma, será exposto um breve contexto em que esse segmento está inserido, tanto no âmbito nacional indiano quanto internacional, para então elucidar, sucintamente, o panorama geral do segmento na Índia, explorando suas potencialidades e seus principais players, assim como potenciais fornecedores indianos. Para tanto, a metodologia utilizada baseia-se na coleta de dados secundários e na análise dos fluxos de comércio desse mercado indiano para o SH6 em questão.
SH6 analisado: 85414011 - Células solares fotovoltaicas, montadas ou não em módulos ou em painéis
1.1 Contexto
No cenário internacional, a Índia vem ganhando destaque pelo seu crescimento, desenvolvimento e investimento no setor de energias renováveis, principalmente no segmento da produção de energia solar, onde espera-se que o país passe a liderar a produção nesta área a partir das próximas décadas (IEA, 2021, p. 3). Hodiernamente, das nações que compõem o G20, a Índia é a única que está cumprindo as metas do acordo de Paris de 2015 conforme planejado. Além disso, o país também está entre os que mais investem no setor de energia limpa, ocupando a sexta posição mundial na alocação de recursos para este setor entre os anos de 2010 e 2019, com investimentos de cerca de US$ 90 bilhões durante o período, o que demonstra o comprometimento da nação na busca por um futuro sustentável (IBEF, 2021, p. 3-5).
Ademais, destaca-se que essas medidas implementadas pela Índia estão em conformidade com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e com as tendências mundiais no setor de produção de energia. Promover o crescimento e o desenvolvimento de energias limpas e renováveis é fundamental não apenas para a Índia, mas para o mundo. Com essas medidas, a Índia passa a se tornar, cada vez mais, um player fundamental no cenário internacional, especialmente no segmento de energia solar. As projeções mostram que o país pode passar a influenciar e, inclusive, ditar futuras tendências de mercado no setor. Não obstante, tais medidas também impactam o mercado doméstico indiano, que tem grande potencial e espaço para inovação e crescimento. Desta forma, essas ações também ajudam a nação a atingir seus objetivos em inúmeras outras áreas, incluindo outros ODS, e assim contribuem para melhorar a situação do país como um todo (IEA, 2021, p. 169-217).
1.2 Fluxo de comércio indiano para o SH6 85414011
No que tange ao SH6 analisado, o fluxo de comércio do mercado indiano apresenta-se conforme segue:
Gráfico 1 elaborado pelo autor com base em dados do TradeMap, 2019.
Gráfico 2 elaborado pelo autor com base em dados do TradeMap, 2019.
A partir dos gráficos acima, podemos perceber quais são os maiores parceiros da Índia em relação ao fluxo de comércio do SH6 85414011 e os montantes transacionados com esses países. Com efeito, esses resultados mostram que há espaço para a Índia promover a diversificação de parcerias no segmento, especialmente se avaliado o potencial de crescimento e expansão futuros desse setor na economia indiana e mundial.
2. Panorama geral do segmento de energia solar na Índia
Atualmente, o segmento de energia solar indiano vem em franca expansão, passando de 5,59 GW em 2015, quando o país era o décimo maior produtor mundial, para 39,2 GW em 2020, quando se tornou o quinto maior produtor do segmento. Esse resultado evidencia um aumento de 7 vezes em sua capacidade de produção anual de energia solar, somente entre 2015 e 2020 (IRENA, 2020). Além disso, no curto prazo, há a meta para que a produção de energia solar na Índia chegue a 114 GW em 2022, quase triplicando a capacidade de produção atual deste segmento em apenas 2 anos (IBEF, 2021, p. 3).
Dentre os fatores que estão impulsionando este acelerado crescimento e desenvolvimento do segmento de energia solar na Índia, destaca-se a demanda cada vez maior por energia no país, fruto da expansão da população, da urbanização, da indústria e da economia indiana como um todo (IEA, 2021, p. 12). Ademais, as políticas governamentais de apoio e incentivo à produção de energias limpas e renováveis e o relaxamento das normas para atração de investimento externo direto acabaram por favorecer um maior dinamismo deste mercado no país, de tal modo que as expectativas apontam que o setor de energia pode atrair investimentos de cerca de US$ 130 bilhões entre os anos fiscais de 2019 e 2023 e o setor de energia renovável investimentos de cerca de US$ 330 bilhões até 2030 (IBEF, 2021, p. 5; 18).
Além disso, ainda no âmbito governamental indiano, ressalta-se a posição central que a energia solar vem assumindo, sendo vista também como uma das formas mais eficientes e práticas de endereçar os desafios de segurança energética do país ao mesmo tempo em que a nação lida com as mudanças climáticas, pois a energia solar é a mais segura das fontes e está amplamente disponível. Nesse sentido, o Plano de Ação Nacional sobre Mudanças Climáticas da Índia e a Missão Solar Nacional, uma iniciativa do governo para tornar o país o líder mundial na geração de energia solar e na difusão de tecnologias do setor por todo o país, estão entre as principais políticas que fomentam a inovação e o dinamismo do segmento no país e o crescimento e desenvolvimento da nação de forma ecológica e sustentável (MNRE, 2021).
Sob uma perspectiva mais ampla, percebemos que o panorama geral do segmento de energia solar na Índia é bastante positivo e muito promissor, com inúmeros elementos contribuindo para o país se tornar cada vez mais central nesse setor. Embora a pandemia da COVID-19 tenha causado impactos negativos no setor energético como um todo, a Índia segue sendo um dos principais países no que tange ao aumento contínuo de demanda por energia. Nesse cenário, o espaço para inovação e crescimento do setor de energia solar do país, juntamente com as demais políticas de desenvolvimento sustentável, continuarão a ser centrais para a Índia, colocando-a nos holofotes internacionais como pioneira e exemplo quando o assunto é crescimento e desenvolvimento sustentável (IEA, 2021, p. 12-6).
2.1 Potencialidades
As potencialidades deste segmento na economia indiana são ainda mais impressionantes se avaliadas no médio e longo prazo, onde há a expectativa de um crescimento acelerado do setor durante os próximos anos. As projeções mostram que em até duas décadas a taxa de geração de energia solar na produção total de energia da Índia pode igualar à taxa de geração de energia do carvão, quando cada uma irá corresponder a aproximadamente 30% do total de energia gerada no país. Esta mudança representa uma massiva transformação, dado que, contemporaneamente, o carvão corresponde a cerca de 70% e a energia solar a cerca de 4% da produção total de energia da Índia (IEA, 2021, p. 12).
Ademais, essa mudança está em linha com os planos do governo, que busca atingir uma capacidade instalada capaz de gerar 40% da produção total de energia da Índia por meio de combustíveis não fósseis já a partir de 2030. Para atingir esses objetivos, o governo indiano tem buscado promover inúmeros projetos que estimulem o desenvolvimento e a geração de energia solar, tais como parques solares e telhados solares conectados em redes, entre outros. Esses projetos, em conjunto com as Parcerias Público-Privadas e as empresas estatais indianas do segmento, são os principais mecanismos governamentais de desenvolvimento do setor (MNRE, 2021).
Abaixo segue um gráfico demonstrando a importância atual do segmento e a fatia de mercado que a Índia detém no mundo, assim como uma projeção para 2040.
Gráfico 3 Tamanho do mercado de energia limpa da Índia e participação global do país na produção de tecnologias de energia limpa em 2019 e em 2040
Fonte: IEA, 2021, p. 213.
O gráfico acima mostra a preponderância que o segmento de energia limpa e renovável da Índia tem e pode vir a ter na produção total de energia do mundo. Em 2019, a Índia representou aproximadamente 10% da produção total de energia solar no mundo. Além disso, segundo a projeção, em 2040 o país irá responder por cerca de 25% da produção total de energia solar no mundo, além de mais de 10% da produção de energia eólica e de baterias (IEA, 2021, p. 213).
2.2 Principais players
Na Índia, os principais players do segmento de energia solar consistem nas empresas privadas produtoras das células solares fotovoltaicas, montadas ou não em módulos ou em painéis, nas instituições públicas de financiamento e nas empresas financeiras não bancárias que realizam os empréstimos e serviços de consultoria. Ademais, as empresas estatais, responsáveis por atuar no controle, planejamento, coordenação e supervisão dos sistemas de distribuição de energia da Índia de forma interestatal, e o governo, que busca promover o desenvolvimento do setor através de políticas de estímulo e de concessão de benefícios, também são players fundamentais (IBEF, 2021, p. 13-4; 21-5).
No gráfico abaixo se pode observar, de forma mais ampla, como estão estruturados os investimentos em energia na Índia e qual é o tipo de companhia, pública ou privada, responsável por cada fatia de investimento.
Gráfico 4 Investimento em energia em 2019 na Índia por empresas estatais/empresas do setor público e atores privados
Fonte: IEA, 2021, p. 193.
A partir dos dados do gráfico, evidencia-se que o setor privado (porção em verde) é responsável por mais da metade do investimento e do dinamismo do setor de energia da Índia. Com efeito, isso também é verdade para o segmento de energia solar do país. As empresas públicas indianas cumprem o papel de incentivar e ajudar na promoção do desenvolvimento de projetos e no estímulo do aumento da competitividade e da produtividade das empresas privadas do setor.
Assim, na esfera pública, dentro do segmento de energia solar indiano, destacam-se a Power Finance Corporation Ltd. e a Power Grid Corporation of India Ltd. A primeira é uma empresa do setor público indiano que é responsável por atuar no financiamento e desenvolvimento de atividades dentro do setor de energia da Índia, concedendo empréstimos e serviços de consultoria, entre outros. A segunda também é uma empresa do setor público, mas é a responsável por planejar, coordenar, supervisionar e controlar a transmissão interestadual de energia (IBEF, 2021, p. 13-4).
No âmbito privado, ressalta-se a importância dos agentes e empresas na economia do país, pois eles têm forte impacto no fomento à inovação, empreendedorismo, competitividade e produtividade das empresas dentro do setor, de tal modo a tornar a Índia um exportador cada vez mais relevante dentro do segmento. As expectativas mostram que no cenário de desenvolvimento sustentável da Índia, cerca de 70% do investimento em setores críticos na próxima década, tais como o de energias renováveis, podem vir do setor privado (IEA, 2021, p. 193-4).
3. Fabricantes indianas de placas solares
A capacidade instalada de produção de energia solar indiana é bastante diversificada em sua disposição territorial, no entanto, alguns estados indianos chamam a atenção pela produção de energia solar que geram. A maioria desses estados se localizam na porção oeste e sul do território da Índia, conforme pode ser percebido pela figura a seguir:
Figura 1: Capacidade Instalada de produção de Energia Solar na Índia
Fonte: Invest India, 2021.
Esses estados estão entre os mais industrializados do país e concentram importantes fabricantes de placas solares da Índia. Abaixo segue uma tabela contendo mais informações sobre algumas destas empresas, que podem vir a ser potenciais parceiras.
Desta forma, o segmento de energia solar da Índia é realmente muito dinâmico e vem em franca expansão a níveis nacionais e internacionais por uma série de motivos que vão desde os incentivos e políticas governamentais à adesão mundial às tecnologias do setor, tornando o país, de modo geral, referência no segmento de energia solar.
Referências
INDIA BRAND EQUITY FOUNDATION (IBEF). Indian Power Industry Report (January, 2021). Power Sector in India, 2021. Disponível em: <https://www.ibef.org/industry/power-sector-india.aspx>. Acesso em: 24 de abr. de 2021.
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA). India Energy Outlook 2021. World Energy Outlook Special Report, 2021. Disponível em: <https://www.iea.org/reports/india-energy-outlook-2021>. Acesso em: 25 de abr. de 2021.
INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY (IRENA). Country Rankings. International Renewable Energy Agency, 2020. Disponível em: <https://www.irena.org/Statistics/View-Data-by-Topic/Capacity-and-Generation/Country-Rankings>. Acesso em: 24 de abr. de 2021.
INVEST INDIA. Renewable Energy. Invest India National Investment Promotion & Faculty Agency, 2021. Disponível em: <https://www.investindia.gov.in/sector/renewable-energy>. Acesso em: 26 de abr. de 2021.
MINISTRY OF NEW AND RENEWABLE ENERGY (MNRE). Solar Energy. Government of India Ministry of New and Renewable Energy, 2021. Disponível em: <https://mnre.gov.in/solar/current-status/>. Acesso em: 30 de abr. de 2021.
TRADEMAP. List of importing markets for a product exported by India Product: 85414011 Photosensitive semiconductor devices, incl. photovoltaic cells whether or not assembled in modules or made-up into panels; light emitting diodes (excl. photovoltaic generators): Solar cells whether or not assembled in modules or panels. International Trade Centre, 2019. Disponível em: <https://www.trademap.org/Index.aspx>. Acesso em 24 de abr. de 2021.
Sobre o autor:
Rafael Fernandes Franceschi
Graduando em Relações Internacionais (UFRGS). Bolsista administrativo, de pesquisa e de extensão PROREXT-UFRGS/OfChiLA. Pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE). Pesquisador e diretor no projeto de extensão UFRGS Model United Nations (UFRGSMUN). Tem interesse pelos seguintes temas: Ásia, Potências Emergentes, Desenvolvimento, Tecnologia, Energia e Política Internacional.
Comentarios