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Panorama Geral do Mercado de Energia Solar na Índia - Por Mariana Paiva

Updated: Jul 7, 2021

SUMÁRIO


  1. 1. Introdução

  2. 2. Panorama geral do segmento de energia solar

  3. 3. O mercado de energia solar na atualidade

  4. Referências Bibliográficas



1. Introdução

Como forma de combater os efeitos negativos de emissões de gás carbônico e de distribuição desigual de energia, diversos países estão se voltando para fontes alternativas como hidrelétrica, nuclear, eólica e solar, sinalizando que a busca por recursos não-fosseis deverá aumentar nas próximas décadas. A Índia é a quinta maior economia do mundo e pode se tornar o país mais populoso até 2050. Neste cenário, segundo relatório do Greenpeace, o crescimento populacional do país e evolução exponencial de seu PIB deverá elevar o aumento da demanda por energia em 200% até 2050 (TESKE et al., 2015). Estima-se que a energia solar fotovoltaica irá compor de 20% a 40% do mercado de tecnologias renováveis do país (GULAGI et al., 2018).


O setor de energia solar tem apresentado diminuição de 82% nos custos desde 2009 e aumento de eficiência das tecnologias em 20% (SALIBA et al. 2016). Como o terceiro maior emissor de gás carbônico, atrás dos Estados Unidos e da China, a Índia tem investido significativamente em energias renováveis e, atualmente, oferece a energia solar mais barata do mundo, com construção de usinas solares ocorrendo por até metade do preço das usinas de carvão (JAISWAL et al., 2017). Por estes motivos, o país configura uma ótima opção para aqueles que buscam investir em placas solares.


2. Panorama geral do segmento de energia solar

Fatores como a abundância de luz solar, necessidade por eletricidade nas zonas rurais e benefícios de energias renováveis levaram a Índia a implementar diversas políticas que encorajassem o desenvolvimento de energias alternativas. Anterior à adoção destas políticas, em 1974, a demanda por eletricidade era suprida pelo Governo Central e Estadual, com capacidade instalada total de 16,7 gigawatts, sendo que mais da metade provinha de carvão (51%), seguido pelo uso de energia hidrelétrica (42%), nuclear (4%), gás (2%) e renováveis (0%) (HAIRAT; GOSH, 2017; MOALLEMI, 2017).


Em 1970 houve uma crise do petróleo que fez com que o governo indiano se voltasse para energias não-fósseis. Como resultado, em 1985-86, surgiu a primeira instituição responsável por investir em produtos fotovoltaicos, o Departamento de Fontes de Energia Não-Convencionais. Este fazia parte de um plano de desenvolvimento da Índia e tinha como objetivo financiar pesquisas e projetos voltados para energia renovável (RAINA; SINHA, 2019). Mais tarde, o departamento se tornou o Ministério de Energias Não-Convencionais, o primeiro ministério do mundo com propósito de elaborar políticas de incentivo à energia sustentável.


A segunda companhia a investir tecnologia fotovoltaica foi a Bharat Heavy Electric Ltd. (BHEL). Esta pertencia ao setor público e lidava com equipamentos de geração de energia (CHAUREY, 2001). Juntos, o Departamento de Fontes de Energia Não-Convencionais e a Bharat Heavy Electric possuíam monopólio do mercado de produtos solares.


Em 1990, houve uma crise econômica na Índia que levou a liberalização da indústria, abrindo espaço para empresas privadas (MUKHERJEE, 2014). A TATA BP Solar Ltd. foi formada como uma joint venture entre a empresa do Reino Unido, BP Solar, e a empresa indiana, House of Tata, e se tornou a principal produtora de painéis solares da Índia em 2001 (RAINA; SINHA, 2019). Nesta época, já havia uma estrutura formidável de energia não-fóssil no país aplicada aos setores de telecomunicações, iluminação pública e bombas solares, entre outros.


O século 21 presenciou grande investimento do governo no setor de tecnologias renováveis. Em 2010 o país lançou o Jawaharlal Nehru National Solar Mission, plano nacional com objetivo de tornar o país centro mundial de energias alternativas. O Governo Central tomou esta iniciativa visando promover o crescimento industrial ecologicamente sustentável dos estados indianos e, ao mesmo tempo, abordar desafios de distribuição de energia. Anterior ao projeto, a quantidade de energia solar implementada no país equivalia a apenas 17,8 megawatts. O projeto estabeleceu metas de 20 gigawatts até 2022, porém o objetivo foi revisado em decorrência da grande quantidade de energia já implementada e estabeleceu-se uma nova meta de 100 gigawatts até 2022 (IEA/IRENA, 2018).


Atualmente, com a Cúpula do Clima, em abril de 2021, o governo indiano reforçou seu compromisso com o meio-ambiente, afirmando que os objetivos do país estão centrados na conversão para energia limpa. Para tanto, o governo irá apoiar-se em três principais entidades públicas responsáveis pelo desenvolvimento de iniciativas voltadas para energia solar: o Solar Energy Corporation of India, responsável pela implementação Jawaharlal Nehru National Solar Mission; o Indian Renewable Energy Development Agency, que controla financiamento a longo-prazo de projetos de energia renovável; e o National Institute of Solar Energy, com objetivo de financiar pesquisas e desenvolvimento de tecnologias fotovoltaicas. O governo também dispõe de diversas iniciativas para incentivar o desenvolvimento do mercado, incluindo créditos fiscais aos investimentos, subsídios, financiamento favorável etc.


3. O mercado de energia solar na atualidade

Atualmente, a Índia configura o quarto maior mercado de energia renovável do mundo, atrás da China, Estados Unidos e Japão. Com o crescimento da economia, o setor de energia renovável deve compor até 57% da produção de energia da Índia em 2027 (SAFI, 2016). A transição energética tem crescente apoio de investimento externo. Entre abril e setembro de 2020, o investimento estrangeiro direto para o setor de energias não-convencionais alcançou US$9.680 bilhões (R$ 52 bilhões) e a estimativa é que só venha a aumentar, atingindo US$500 bilhões (R$ 2,690 trilhões) até 2028. Entre as fontes de energia renováveis, a solar é a mais utilizada em novos projetos no país.


As usinas solares podem ser dívidas em dois tipos: fotovoltaica e térmica. De modo simplificado, a tecnologia fotovoltaica gera energia quando os fótons (unidade de luz básica) colidem com o material da placa solar, liberando elétrons. O efeito fotovoltaico só ocorre com materiais chamados semicondutores, como silício-monocristalino, policristalino, telúrio amorfo e cádmio. Após procedimentos químicos, estes materiais permitem a geração de uma corrente elétrica quando expostos à luz (FURQUIM; GOMES, 2021). Já a térmica solar possui funcionamento bem mais simples, utilizando a luz para aquecer fluidos, como água ou outros, para gerar energia. As estruturas de silício cristalino ocupavam 85% do mercado global em 2011, segundo relatório do Office of Energy Efficiency & Renewable Energy localizado em Washington D.C nos Estados Unidos (SOLAR ENERGY TECHNOLOGIES OFFICE, 2000).


Visando o mercado de energia solar, o governo indiano estabeleceu um plano de Production-Linked Incentive, ou incentivo vinculado a produção, com duração de 5 anos que destinará US$ 610.23 milhões (R$ 3 bilhões) para a produção de tecnologia fotovoltaica. O intuito é dar às empresas incentivo sobre vendas incrementais de produtos fabricados em unidades nacionais, expandido o mercado nacional e atraindo investimento externo. Outras iniciativas do governo indiano como o Solar Park Scheme, de desenvolvimento de parques solares, e o Grid Connected Solar Rooftop Scheme, de instalação de painéis solares nos tetos de casas, irão acelerar a adoção e reduzir custos da tecnologia (IBEF, 2021).




Referências Bibliográficas


CHAURNEY, Akansha. The growing photovoltaic market in India. Progress in Photovoltaics: research and applications, v.9, n.3, p.235-244, 2001. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/pip.370. Acesso em: 28 de abr. 2021.


SOLAR ENERGY TECHNOLOGIES OFFICE. Crystalline Silicon Photovoltaics Research, [2000?]. Página inicial. Disponível em: https://www.energy.gov/eere/solar/ crystalline-silicon-photovoltaics-research. Acesso em: 28 de abr. 2021.


GULAGI, Ashish; BOGDANOV, Dimitri; BREYER, Christian. The role of storage technologies in energy transition pathways towards achieving a fully sustainable energy system for India. Journal of Energy Storage, v.17, p.525-539, 2018.


HAIRAT, Manish Kumar; GHOSH, Sajal. 100 GW solar power in India by 2022: a critical review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.73, p.1041-1050, 2017.


IBEF - India Brasil Equity Foundation. Renewable Energy Industry in India. 2021. Disponível em: https://www.ibef.org/industry/renewable-energy.aspx/>. Acesso em: 28 de abr. 2021.


IEA/IRENA Renewable Policies Database. Jawaharlal Nehru National Solar Mission (Phase I, II and III). 2018. Disponível em: https://www.iea.org/policies/4916-jawaharlal-nehru-national-solar-mission-phase-i-ii-and-iii. Acesso em: 28 de abr. 2021.


JAISWAL, Shantanu; JAIN, Atin; ORLANDI, Itamar; SETHIA Ashish. Accelerating India’s Clean Energy Transition. Bloomberg New Energy Finance, 2017. Disponível em: <https:// assets.bbhub.io/professional/sites/24/2017/11/BNEF_Accelerating-Indias-Clean-Energy-Transition_Nov-2017.pdf>. Acesso em: 28 de abr. 2021.


JAWAHARLAL Nehru National Solar Mission, Ministry of New and Renewable Energy, Government of India. Disponível em: <https://www.seci.co.in/upload/static/files/mission_ document_JNNSM(1).pdf>. Acesso em: 28 de abr. 2021.


MOALLEMI, Enayat A. et al. India's on-grid solar power development: historical transitions, present status and future driving forces. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.69, p.239-247, 2017.


MUKHERJEE, Mohua. Private participation in the indian power sector: lessons from two decades of experience. Directions in development – energy and mining, 2014. Disponível em: <https:// elibrary.worldbank.org/doi/book/10.1596/978-1-4648-0339-0?chapterTab=true>. Acesso em: 28 de abr. 2021.


RAINA, Gautam; SINHA, Sunanda. Outlook on the Indian scenario of solar energy strategies: Policies and challenges. Energy Strategy Reviews, v.24, p.331-341, 2019. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211467X193 0032X#bib6. Acesso em: 28 de abr. 2021.


SAFI, Micheal. India plans nearly 60% of electricity capacity from non-fossil fuels by 2017. The Guardian, 2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2016/dec /21/india-renewable-energy-paris-climate-summit-targe. Acesso em: 28 de abr. 2021


SALIBA, Michael. Et al. Cesium-containing triple cation perovskite solar cells: improved stability, reproducibility and high efficiency. Energy & Environmental Science, v.6, 2016. Disponivel em: <https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2016/ee/c5ee 03874j#!divAbstract>. Acesso em: 28 de abr. 2021.


FURQUIM, João Pedro Cluadino; GOMES, Geisla Aparecida Maia. Comparação entre energia solar térmica e energia solar fotovoltaica: estudo de caso de uma residência na cidade de São Lourenço – MG. MG: FEPESMIG, 2020. Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/handle/prefix/1320. Acesso em: 18 de jun. 2021.


TESKE, Sven. et al. Energy [R]evolution: a sustainable world energy outlook 2015. Green Peace, 2015.


Sobre a autora:




Mariana Resende de Paiva é graduanda de Relações Internacionais da PUC-Rio. Fez parte da Apple Developer Academy da PUC-Rio, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e atuou como tradutora e revisora em projetos de pesquisa atrelados ao Laboratório de Inteligência Computacional Aplicada.

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